
Hoje Curitiba perde uma das poucas coisas tradicionais que prezo por aqui. A D'Aquino, calçados sob medida, deixa de funcionar.
Fiquei um pouco perdida ao saber, embora seu D'aquino já tivesse dado indícios que fecharia as portas.Fui até lá, pois tinha pedido que fizesse um sapato no fim do ano passado. Chegando, encontrei o velhinho sentado em uma das salas com um cliente desavisado e por sinal atônito, ao saber da novidade. Falei que já sabia que ele fecharia a sapataria e que tinha ido buscar o modelo deixado lá. Ele todo sem jeito, pediu desculpas e disse que não dava mais, que ninguém queria aprender e dar continuidade ao oficio. Olhou meu pé calçado em um par de havaianas e perguntou que número eu calçava, disse que era 38, ele disse que não podia ser, afinal era um pé tão fino...fomos juntos procurar o sapato, ele em seu ritmo lento, me fez parar e depois andar mais devagar. Estava muito triste, me mostrou a oficina cheia de rachaduras e disse que ela poderia cair. Achamos o sapato, agradeci a ele pelos serviços que prestou a mim, foram muito poucos, mas queria agradecê-lo por todos os sapatos que já haviam passado por suas mãos.
Me falou da Itália, mas não como sempre falava, talvez como sempre, mas hoje pude ouvir melhor. Pediu que eu fizesse uma coisa, separasse 20% do que eu ganho e fosse visitar a Itália em maio, na primavera. "É belíssima, ninguém deve deixar de vê-la na primavera".
Saí de lá pensando em tudo que vira e ouvira. Na saída tinha um senhor também idoso, esperando para ser atendido, com um par de sapatos nas mãos. A vida é assim, os ciclos se fecham até para os gênios, por mais delicados que eles sejam.
Um comentário:
Seu D'Aquinho continuará a fazer sapatos mágicos em nossos sonhos e lembranças
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